O contacto com gente assusta-me, é rude. Foi demasiadamente precipitado. Consigo ouvir a respiração de cada um, observar cada pormenor... os pontos negros que carregam em faces óleosas.
Não sei onde centrar a atenção, é muita imformação sem um fim intêncional ou previsivel.
Há mais do que uma pessoa a ler o mesmo jornal gratuito, estranho é que parecem nem se conhecer!
Estou trancado numa das carruagens, cheira a gente.
Sinto receios há tempos ultrapassados.
"Diz-me com quem andas, dir-te-hei quem és!"
As pessoas são formadas pelo espaço e suas constituintes, serei eu inteligente o suficiente para conseguir absorver o positivo deste enlatado do quotidiano?
Que palavra esta, quotidiano, tudo o que é sedentário incomoda-me e provoca-me inquietação.
Os transportes públicos, quase tão maus como o próprio nome. Tento não tocar em lado nenhum.
Ao meu lado senta-se um homem que ri, talvez acomodado nas circunstâncias. Em frente vai uma mãe com respectiva filha, já adulta. Impossível não perceber, as pessoas distribuem-se pelo escasso espaço (dividindo 1 m2 com outra pessoa, quase algo intimo).
Estou sentado, há pessoas que nem lugar conseguem (ridiculo visto que pagaram a passagem).
Agarrado ao meu banco viaja um homem de fato cinzento, não sei se novo ou de meia idade. Impossível perceber, quase uma imagem preversa, mas se olhar em frente consigo perceber que quase toca com o falo na minha cara - Farei a viagem a olhar para a janela!
Serviços públicos, transportes públicos, instalações sanitárias públicas, ensino público, cheiros, imagens, contacto... Mau serviço.
A constactação do pobre com noções e ambições.
Vou tomar um banho quando voltar.
Vou voltar!
2 comments:
Relações descartáveis … duas palavras que resumem o que se passa nesses bocados de lata que deslocam os elementos urbanos humanos … Não deixam de ser transportes públicos , sendo que também não são necessariamente maus .
No meio de cheiros e olhares , conseguimos verificar a diferença animadora que nos envolve em cada viagem feita … Lá está … relações descartáveis , de baixa durabilidade , mas que ainda assim nos animam , ou melhor , nos afectam , quer negativa quer positivamente … e não é disso que somos feitos ? Experiências sensoriais que nos afectam o dia-a-dia? O conceito em si de transporte público só por si até pode ser pejorativo, associado, na mente mais tacanha, com o passe social … Em Nova Iorque rara é a pessoa , por mais dinheiro que tenha , que não ande de transportes , mais que não seja de táxi ! E lá por isso , não são a qualidade ou quantidade de transportes públicos que os diferencia … mas sim a atitude ! Será que uma cidade linda como a de Lisboa , não é vivida com mais intensidade sem os carros , sem as buzinas ?? Será que não é mais interessante ver quem passa , apreciar a vista , esperar pelo metro ou pelo barco e notar quem são os estudantes , os idosos que passeiam , as famílias que foram buscar o primogénito ao externato ?? Pois é … comodismo … todos o temos … Mas somos nós que fazemos dos transportes públicos o que eles são e não o contrário . Haverá entrada mais bonita na cidade do que ver um nascer do sol sem a preocupação de bater no carro da frente ? Trocar um olhar por instantes e sentir alguma lisonjeia pelo olhar mais lascivo que foi recebido de volta ? Enfim … cada um gosta de viver como cada qual … Temos de ver o lado positivo de tudo ! Mesmo que seja o lado negativo o mais perceptível !
Detesto transportes públicos!
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