Aos demais 7|3

“Estás tão preso na ideia que não consegues amar que a determinada altura não consegues mesmo”

Andreia Cunha

Pode ser verdade, ou não. Por um lado acredito em parte no que quiseste dizer, por outro sinto que as pessoas não estão dispostas a isso.
Tudo acaba antes de começar, porque sim. Porque quando se diz “gosto de ti” parte-se dum pressuposto que estamos dispostos a perceber o outro lado a fazer de tudo para o conquistar.
Estou a fazer um bolo, junto a farinha aos ovos e a massa começa por existir, adiciono outros ingredientes, e há alguém que me vende sal a dizer que é açúcar. O bolo vai ao forno, estou desejoso de poder provar uma fatia, está com óptimo aspecto. Corto uma fatia. Dou a primeira dentada e começo a saborear, qual o meu espanto quando sinto que a massa está salgada e não doce, porque me induziram em erro.
Posso espernear, posso sorrir, posso até chorar (que não choro), sou capaz de amar afinal sou um ser humano. Mas sou capaz de amar se inicialmente o bolo não me decepcionar.
E sim, este texto é dedicado a todas as pseudo relações, às tentativas frustradas do acreditar em “eu sou capaz”. E tu és capaz?
Aqui está o ponto fulcral da questão. A relação é feita a dois. Há teoria, mas desvanece sempre no início porque a contradizes.
E eu sei que vou amar, vou amar muito. Não sou seco como digo ser, choro se tiver que chorar, amo se tiver que amar, mas só choro porque amo. Não choro porque ainda não amo.
A verdade é apenas uma, as pessoas não acreditam, as pessoas mentem, as pessoas martirizam o branco imaculado do sentimento puro. Pode nunca ser perfeito, mas a perfeição pode ser parte do platónico da relação, porque o amor faz com que assim seja. Limpa as pequenas imperfeições da coisa, apara as arestas, torna tudo mais simples, mais leve.
E sim, eu sei amar.
E sim, eu choro.
Mas não amo. Não choro!
Não e não porque até existir um sim, passa por momentos únicos de tamanha sinceridade, porque tudo o resto não importa. Porque os olhos enfeitiçam a alma, porque tem que ser. Tem que ser. Doutra forma tudo acaba antes de começar, porque sim.