Friday, March 26, 2010

À margem 26|3


Aqui no atelier, trabalho numa sala com três pessoas. Três homens, um arquitecto e dois orçamentistas. Isto é sinónimo de contraposição de necessidades, a guerra entre o silêncio da projecção e o alarido dos telefones que tocam e as vozes que se vão sobrepondo com o intuito de abafar as alheias. A constante intimidação dos valores projectados por vozes graves em volumes bem audíveis.
E hoje é sexta-feira e não me apetece fazer nada, quero fazer um motim à exploração constante que esta empresa exerce em mim e à maior parte destas pessoas. Um motim contra a exploração criativa, o mais puro que brota em nós.
Esta coisa de ser “criativo” tem muito que se lhe diga. Sofremos com a angústia de manter um registo que é o nosso numa adaptação constante às questões que nos colocam. A restrição esmagadora de limitações idílicas dos que se sobrepõem numa escala hierárquica injusta. E estou cansado, sem força. Apetece-me mexer na terra e chamar o sol, e a Primavera, e sentir o renascimento nas novas folhas tenras que começam a rebentar os troncos martirizados pelo rigoroso Inverno. Hoje passaria o dia todo a reorganizar os canteiros e a sujar as mãos de terra pronta para receber estas novas raízes.
Lá ao fundo oiço gargalhadas dementes, gargalhadas que tocam as minhas num sentido oposto. Os opostos atraem-se (queira com isto dizer o que for). Há pessoas aqui, não no atelier, mas na empresa que têm tanto para aprender. Tornarem-se mais completos, melhores pessoas. As pessoas vivem equivocadas com o verdadeiro sentido disto tudo.
Até me soltaria gargalhadas, mas as minhas seriam certamente de tédio. Hoje não é definitivamente um dos dias que cedo à pressão.
Mas cá estou, sei que não será para sempre, mas sei que momentaneamente terá que ser. Momentaneamente é aqui que reside a minha escola de vida. Como citaria Ghandi “Tudo o que fizermos na vida é insignificante, mas é muito importante que o façamos”. E portanto resigno-me a esta vidinha, aceito tudo o que me vai dando, mas nunca viverei conformado!
Quero mais, muito mais.

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