Wednesday, August 15, 2007

Horas inevitáveis 16|8

Era um ambiente propício a um diálogo sentimental. O cenário, a praceta com o pelourinho central, ao fundo as cadeiras e as mesas alinhadas em sombras descentradas. Tudo era propício a uma presença sentimental efectiva e fisicamente ausente.
Lembro uma noite em que estávamos exactamente na mesma praça, era noite e as cadeiras estavam todas ocupadas. Havia luzes por toda a parte, balões coloridos extenuados pela força da gravidade e o palco ao fundo. No ar sentia-se o cheiro tão característico de festas populares – a farturas, pipocas e algodão doce. Jantávamos e o tema da conversa era a tua terra, que defendias ser outra que não a do teu nascimento. Tenho a sensação de teres falado de possíveis familiares ali. As cadeiras eram de ferro e as mesas também, havia muita gente. A noite agradável, de Verão.
Neste mesmo sítio, passados alguns anos, encontro-me com outras duas pessoas que sentem a tua falta. Falam de ti e os olhos espelham a saudade. As lágrimas o sentimento.
Difícil contornar a situação e deixo-me envolver na emoção. Éramos três, os que mais sentem a falta do toque, do cheiro, de ti.
Saudades de não trazer o passado guardado na algibeira.
Estou exactamente no mesmo sítio, o dia invadiu-o de forma brusca, eu cresci e tu não estás mais.
Saudades.

1 comment:

Anonymous said...

:)