
Fecho os olhos e sinto o ladrilhado frenético de informação por toda a parte. Sinto o cheiro a manhã de inverno, o baloiçar das folhas secas numa queda subtil, num chão pisado por imensos sonhos que marcam invernos consecutivos, numa vida que é quotidiano. Fecho os olhos e sinto cada som num romantismo exacerbado da ideologia do poeta, do traço do pintor, da marca da realidade.
Que realidade, a de hoje ou a de ontem?
O relógio marcava uma hora a menos na realidade pretendida, chovia lá fora num dia que se avistava cinza, o relógio despertou-me dum sonho atribulado. Chegou o dia, aquele dia que julguei inexistente no relógio que me despertava uma hora depois como passe para o mundo pretendido.
Sempre pintei o dia numa escala de cinzento.
Adormeço e volto a acordar, abro a janela e sinto o vento fresco da manhã parisiense, bate-me na cara com o devido preceito de me despertar.
Tudo me envolveu como o sonho, a musica era aquela, o espaço o mesmo, a pretensão realçava em mim a minha espantosa modéstia. E grito quando avisto a torre de ferro, está ali, estou ali. Sinto a garganta a dar sinais de vida numa dor que ignoro pelo cheiro da cidade.
Ando por toda a parte até onde as minhas forças permitem, marco cada passo para não me esquecer que são apenas mais alguns num principio que já se avista longe, mas existente.
Informação por toda a parte, romantismo e idealismo presentes. O sonho, esse, palpita-me em toda num todo, faz juz à sua existência e grita dentro de mim para que oiça a sua convicção.
Sinto-me extasiado, as minhas pernas levam-me além do que previ. A mente recebe toda a informação mas guarda-a para que a possa digerir depois.
Entro, sou recebido por três pessoas bem vestidas “– Bonjour monsieur!”, o sitio com a exagerada classe e requinte, acompanham-me até ao trono real onde me sento e sou bombardeado, com a devida educação, por perguntas. Passo de desconhecido a convidado, sou “artista”, permitem o meu fraco francês.
Entrego o portofólio e à parte de toda a envolvente sinto-me numa postura descontraída e pretendida, por mim e por quem o recebeu!
Quando me contam coisas exageradamente adjectivadas e bajuladas sinto que a verdade deixa a desejar. Não consigo explicar que género de sitio era aquele, que género de posição era aquela. Foi tudo superior à expectativa, não vos vou tentar explicar para não cair nessa redundância que soa a falso.
Quem sou e para o que vim, não sei. Quem serei e para o que fui, posso (ou não) imaginar!
Ontem estive em Paris, hoje em Bruxelas e acabo de chegar a Lisboa. Estou confuso e feliz.
Não vi tudo o que queria ter revisto, fiz muito mais do que me julgava capaz...
Abro os olhos e o silencio é ensurdecedor, as quadrículas minúsculas e finitas, tenho imensos registos gráficos, sensações, mas o relógio volta a marcar a hora exacta.
Sou um homem convicto na minha realidade audaz e paradoxalmente modesta, pelo pouco que sei, registo na minha realidade a capacidade de lutar pelo que acredito. Eu consegui!
O resultado, espero por ele, não desespero a minha realidade é una e promissora, porque assim o quero.
À bientôt, je reviendrai.
1 comment:
e o k importa é k conseguiste, seja kual for o resultado. um abraço do tamanho do mundo :)
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