Monday, October 20, 2008

Acto oitavo - Au revoir 20|10

Estou neste momento em Douai, norte de França. Está frio. Vim passar o fim de semana ao norte, a casa da minha tia. Na verdade vim para festejar o meu 25º aniversário.
Paris é uma cidade fantástica, uma cidade a perder de vista. Há coisas bonitas por todo o lado. Mas é uma cidade fria, fria demais.
Sinto o corpo a tremer, estou agasalhado mas nervoso. Este estado tem sido constante. Não consigo perceber nada do que se passa à minha volta, nada do que possa estar a sentir, nem reunir as suas causas.
Tenho medo de fechar os olhos, quando os fecho vejo coisas feias. Fico apavorado quando os abro, jurava que me chamavas lá de baixo para me levantar.
Todos tentaram com que me sentisse feliz. Jantámos num restaurante chique algures em Lille, seguido duma partida de kartings (a primeira) e uma pequena reunião de amigos (que não os meus) no domingo.
Tenho medo, ninguém me olha como tu. Ninguém percebe que não estou mesmo bem, apavorado. Sinto-me abandonado, desamparado, nada do que pensei buscar naquela casa correspondia à realidade.
Ninguém me olhou daquela forma, ninguém o percebeu.
Recebi imensas mensagens de “Feliz Aniversário”, muitas delas fiquei até surpreendido, outras eram mais que previsíveis, embora todas me tenham aquecido o coração e atiçado a nostalgia e a bagunça que vai cá dentro.
Posiciono-me entre cá e lá sem perceber o que é o cá e a querer perceber como se vive sem o lá. Não consigo conceber tal ideia. Não consigo viver assim – “Vamos festejar o teu aniversário no bairro?” – claro que sim, haverá outra maneira que não a de estar perto de ti?
Sou especial, sou especial, és especial…
E isto é o quê? Ser especial implica um estado de convalescença no que toca aos outros e este estado cai única e exclusivamente sobre mim.
Posiciono-me entre cá e lá, entre o ser capaz e o travão que a ausência pode se tornar na minha vida.
Sou corajoso também, qual de vocês abandonaria a vossa família, ou melhor, qual de vocês abandonaria as únicas pessoas que amam no mundo? Isto é ser corajoso, jogar com os sentimentos sem dó nem piedade, fazendo com que nada conte, isto é ser corajoso, especial, não entender nada de nada e sentir que no fundo aquilo que mais procuro na vida, a única coisa em que realmente acredito foi posta de lado. E por quem? – Por mim.
Como posso eu conceber tudo isto e misturá-lo com este género de adjectivos que insistem em mim. Como posso eu me deitar sem vos desejar “boa noite” ou receber os vossos “bons dias”. Como posso eu esquecer-vos sem sequer dirigir a palavra a ninguém.
Sou prisioneiro dos meus próprios sonhos e tudo tem a tendência da caducidade, como posso eu lutar contra tudo isto?
Como posso eu?
E receber as vossas mensagens em silêncio. E ouvir-te cantar sem te dizer o quão me soa bem. Sem te dar aquele abraço.
E sussurrar baixinho “Asas eléctricas” enquanto sentias a minha falta.
O que é feito de mim? O que é feito de nós?
Podemos reinventarmo-nos?
Sou um misto entre o que era e o que não sai como ser. Uma tábua rasa a tender para o que me faz feliz, ou não.
Tenho medo, saudades e há dias em que julgo não ser capaz.

3 comments:

Tânia Pato said...

Vai correr tudo bem Dário, vais ver :)
É tudo uma questão de tempo, obviamente que vais sempre sentir saudade, esse sentimento tão nosso, mas com o tempo vais-te habituar a conviver melhor com ela.
Beijinhos

Anonymous said...

Qd sentires akele frio do ausente abraço k tanto te dava jeito me momentos de abismo profundo e desconhecido, fexa s olhos e lembas-te de todos os sorrisos k te enchem e energias positivas para que td na tua vida se resolva e pensa: "Vai tudo correr bem!"
Mas principalmente absorve tudo o que de belo as ruas parisienses têm pa te dar.. caminha olhando o céu, viaja de olhos fechados pelos odores, sente horando e rindo as emoçoes dos outros..

Anonymous said...

A saudade... a melancolia causada pela lembrança... a mágoa que se sente pela ausência. Tudo isto faz parte.. porque crescemos, porque partilhamos, porque amamos. Capaz sempre foste e sempre serás!
É nessa ideia que me agarro, é por acreditar em ti que aguento.

Estou aqui. :)