Saturday, February 07, 2009

Festa Surpresa II 7|2

“Acordaram-me cedo, muito cedo. Senti que algo estranho me despertava. Ainda era noite, o sol não tinha iluminado o céu. Acordaram-me com pressa, antes que a realidade iluminasse o dia.
Desço e não estou cansado. Sinto que dormi o suficiente. Oiço conversas na sala, estão cá imensas pessoas que fazem parte da minha vida. Estou com um pijama vestido, de chinelos e de gorro na cabeça. E tudo está a acontecer por mim e para mim.
Vejo-me rodeado daquelas pessoas, bem vestidas para comemorar sei lá eu o quê. E num ápice cai-me a noção de estares no sofá numa agradável conversa com o meu pai. Fico estático e verbalizo o meu espanto pela tua presença. A minha mãe olha-me e sorri. Percebi que havia um consentimento explícito e que tudo existia até que o sol nascesse.
As pessoas distribuíam-se por toda a parte. Haviam fachadas novas, as ruas estavam arranjadas, a iluminação perfeita. Até havia um parque de diversões colorido.Senti-me feliz por todo aquele ambiente.
Levaste-me até ao pátio e tentaste mostrar que a tua presença valeria mais que todas as ideias que formulei até então a teu respeito. Dei-te o benefício da dúvida aquando vi uma lágrima envergonhada escapar desse olhar sorridente. Sentiste que o meu mundo era diferente de todos que até então vaguearas, permitiste que entrasse no teu coração.Acordo com a melodia do telemóvel, é dia. O sol nasceu e tudo se findou num céu azul claro, limpo e alegre.
Acordo feliz.
Acordo saciado de carinho e de sentimentos bonitos.
Obrigado pela surpresa, amo-vos a todos.
Adorei o décor, o ambiente propício aos sonhos, o consentimento explícito dos meus pais e a lágrima envergonhada que deixaste escapar. Sinto-me completo.”
(…)
Depois da despedida do Alexandre num daqueles sítios que só se consegue estar pouco sóbrio, saímos e vimo-nos depois da longa ausência.
“Envia-lhe uma mensagem. Tu és diferente, envia-lhe uma mensagem. Foram feitos à medida um para o outro.”
- Olá tudo bem?
- Sim e contigo?
- Também.
Baixei o olhar e fugi.
Não faz sentido lutar por isto. Não vale a pena quando não se é crente.
“Porque é que vens tarde demais, a tua mãe não te ensinou? Não chegamos assim tão tarde.”
Sonhei novamente.
Chegava de Paris e tudo se mostrava inverso à realidade. Era cá que me encontrava sozinho. Fui levado agrupado até ti. Vieste-me receber ao portão duma quinta gigante. Vinhas a sorrir e o teu olhar disse-me numa troca sincera que era eu que querias a teu lado, para sempre.
Abraçaste-me com força, uma força convicta e confortável.
Tive que me vir embora. Novamente, tive que voltar.
Deixaste-me partir com a certeza que era a mim que querias, sem máscaras e sem medos. Querias-me.
Acordei sozinho.
E enviei-te a mensagem.

“Porque é que vens tarde demais, a tua mãe não te ensinou? Não chegamos assim tão tarde.”

2 comments:

someofme said...

Fui ver o Benjamin Button. Não chorei. Não achei sequer o filme triste. Achei o filme bonito, extremamente bonito, por duas razões:

1) Talvez nunca seja demasiado tarde. Talvez até seja ainda bem cedo ou a hora certa.

2) Há coisas que nunca se esquece.

Abraço :)

Anonymous said...

"A felicidade não está no que acontece mas no que acontece em nós desse acontecer. A felicidade tem que ver com o que nos falta ou não na vida que nos calhou. Devo dizer-te que me não falta nada, quase nada."