
Estou sentado naquele parque, o parque dos baloiços. Eram azuis e estavam na zona alta, com vista privilegiada sobre a urbanização verde e branca.
Tudo parece menor. Estranho com o passar dos anos haver uma condicionada noção de escala igualmente diferente. No fundo tudo mantém o tamanho original, tudo excepto eu.
As árvores estão maiores, o ladrilho gasto, as paredes sujas e grafitadas e os baloiços não pertencem mais a este cenário infantil.
Por instantes recordo as tardes de sol acabado de chegar do colégio, protegido pelo abraço sentido e quente de quem permanecerá igualmente ligado a este cenário e que tão bem caracteriza estes laços fortes.
Era a última, a casa da urbanização verde e branca, tudo mantém os traços comuns ao tal passado que trago guardado na algibeira. O portão é menor, mas por incrível que pareça é o mesmo. Nos canteiros já não existem as roseiras que trepavam a estrutura de ferro vizinha. A porta de entrada, também já não é a mesma, já não tem vidro cor de azeitona por onde espreitava a aguardar o vulto de quem sorria por mim.
Não entrei, tudo está diferente, eu cresci.
A entrada tinha um aparador de pinho-mel que suportava retratos de família, a luz das tardes com os tons ocre dava-lhe um ambiente confortável em conformidade com o verde escuro das plantas.
Em frente havia o quarto da avó, soalho de madeira estranhamente forrado com alcatifa bege, a mobília a mesma que se mantém no quarto da casa nova, agora sem uso. À direita a cozinha, dispensa e instalação sanitária, à esquerda a sala e o quarto do avô (nunca notei que os avós deveriam dormir juntos). A cozinha inconfundível, caracterizada pelos armários brancos de portas amarelas num pandã frenético com o padrão de azulejo de malmequeres, a chaminé com o pequeno fogão e o pires do lado esquerdo para os fósforos queimados. Dava acesso à marquise que por sua vez tinha a porta do terraço coberto com a versatilidade da fusão do ambiente em espaços de pura fantasia com personagens e características distintas.
A dispensa pequena mas com igual potencial, escondia uma escada de madeira que a custo dava acesso às águas furtadas. Com aspecto de mesanina, protegida pela guarda de ferro pintado de branco, tudo tinha sido projectado para mim. Tinha duas divisões e variadas recordações de outros passados.
E o almoço está pronto, sento-me na sala, não faço refeições acompanhado na cozinha e no final dirijo-me ao armário onde atenciosamente me esperam as iguarias do costume.
De repente tomo consciência que nada mais existe, estou a gelar sentado no parque, nada é eterno, ninguém o sente como eu e a verdade só a mim cabe. Perder - se - há comigo.
Tudo é efémero, lutamos e amamos mas nunca somos totalmente gratificados pelo bem que fazemos.
E numa próxima geração todos estes cheiros característicos destes aconchegantes abraços, perder - se -hão.
Tudo parece menor. Estranho com o passar dos anos haver uma condicionada noção de escala igualmente diferente. No fundo tudo mantém o tamanho original, tudo excepto eu.
As árvores estão maiores, o ladrilho gasto, as paredes sujas e grafitadas e os baloiços não pertencem mais a este cenário infantil.
Por instantes recordo as tardes de sol acabado de chegar do colégio, protegido pelo abraço sentido e quente de quem permanecerá igualmente ligado a este cenário e que tão bem caracteriza estes laços fortes.
Era a última, a casa da urbanização verde e branca, tudo mantém os traços comuns ao tal passado que trago guardado na algibeira. O portão é menor, mas por incrível que pareça é o mesmo. Nos canteiros já não existem as roseiras que trepavam a estrutura de ferro vizinha. A porta de entrada, também já não é a mesma, já não tem vidro cor de azeitona por onde espreitava a aguardar o vulto de quem sorria por mim.
Não entrei, tudo está diferente, eu cresci.
A entrada tinha um aparador de pinho-mel que suportava retratos de família, a luz das tardes com os tons ocre dava-lhe um ambiente confortável em conformidade com o verde escuro das plantas.
Em frente havia o quarto da avó, soalho de madeira estranhamente forrado com alcatifa bege, a mobília a mesma que se mantém no quarto da casa nova, agora sem uso. À direita a cozinha, dispensa e instalação sanitária, à esquerda a sala e o quarto do avô (nunca notei que os avós deveriam dormir juntos). A cozinha inconfundível, caracterizada pelos armários brancos de portas amarelas num pandã frenético com o padrão de azulejo de malmequeres, a chaminé com o pequeno fogão e o pires do lado esquerdo para os fósforos queimados. Dava acesso à marquise que por sua vez tinha a porta do terraço coberto com a versatilidade da fusão do ambiente em espaços de pura fantasia com personagens e características distintas.
A dispensa pequena mas com igual potencial, escondia uma escada de madeira que a custo dava acesso às águas furtadas. Com aspecto de mesanina, protegida pela guarda de ferro pintado de branco, tudo tinha sido projectado para mim. Tinha duas divisões e variadas recordações de outros passados.
E o almoço está pronto, sento-me na sala, não faço refeições acompanhado na cozinha e no final dirijo-me ao armário onde atenciosamente me esperam as iguarias do costume.
De repente tomo consciência que nada mais existe, estou a gelar sentado no parque, nada é eterno, ninguém o sente como eu e a verdade só a mim cabe. Perder - se - há comigo.
Tudo é efémero, lutamos e amamos mas nunca somos totalmente gratificados pelo bem que fazemos.
E numa próxima geração todos estes cheiros característicos destes aconchegantes abraços, perder - se -hão.
Resta-me guardá-lo com o maior cuidado e no local mais seguro de mim, o mais íntimo, o coração.
4 comments:
são também as recordações mais bonitas que eu tenho da minha vida...comoveste-me...fizeste-me chorar...tb vou guardar para sempre essas memórias, cheiros, sentimentos no meu coração...
e as coisas mais bonitas sao sempres as k tem de ser guardadas, o mal é k nem sempre as guardamos...
A última casa da urbanização.
O parque em frente com os baloiços azuis.
o vidro da porta de entrada.
A sala cheia de objectos frageis, com a luz do tecto a imitar velas.
O quarto do avô.
O quarto da avó.
A escada de madeira escura com acesso ao sotão.
O chão vermelho do sotão.
O rolo de papel colocado numa barbie em cima da sanita branca com uma pequena janela na parte de cima.
A pequena cozinha.
o terraço com vista para o quintal dos vizinhos de baixo.
o cheiro da casa dos avós...
Uma estranha realidade pertencente ao passado... Uma realidade que parece fazer parte de outra vida...
Muito mais confuso para ti do que para nós dois mais pequenos!
:D:D a metade de barbie com o vestido a cobrir o rolo de papel higiénico, inconfundível, era tão feia! :D **
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