Sunday, March 25, 2007

All that jazz 25|3


...temos de fazer o trabalho árduo, confrontar o mundo, e devemos encontrar uma forma de o fazer que seja o mais pessoal íntima, falando não tanto como artista mas como indivíduo.

É assim que começa uma noite que se torna bem mais que um simples prolongamento do dia.

É mau, sentir preguiça? Isso de não fazer nada existe? Quando estás a praticar o nada, o que estás a fazer? Um ser humano existe sem preguiça?
Quando não nos apetece fazer nada, será porque nos apetece fazer tudo? Ou outra coisa?
O trabalho liberta? E a preguiça? Prende?


Pensar e pensar e distrair enquanto se pensa, e pensar mais um pouco sem qualquer condicionamento. Era uma rua do bairro alto com pouco movimento e a conversa flui, sai, simplesmente sai.
Posteriormente o relógio marca a hora de Verão, queimamos portanto uma hora desta extensão. Um beijo e mais um abraço. Um até já, porque não se diz adeus aos amigos.
Chegados à “fábrica dos sonhos” a realidade muda. O cenário transforma-se no paradoxo da calma vivida naquela rua ladrilhada e o frenesim pseudo inteligente marcado numa linha curva quase sem fim. Gente que anseia que o tempo não avance ao contrário desta fila.
Quebramos a fila e sinto (mesmo sem olhar) que nos observam com ideias reprovadoras, afinal entrar na “fábrica dos sonhos” com a convicção de suster a ansiedade do tempo, é injusto para aqueles que são obrigados a isso. E o que nos diferencia destes? Muito pouco, quase nada, talvez nada.
Entrámos, com pouca justiça. Mas foi, como costuma ser, agradável.
A música estranhamente tocava com outros ritmos, tudo iria ser diferente.
Esta noite foi um misto de condimentos nunca antes pensados conjugáveis. Senti o cheiro da minha primeira queca, senti o cheiro da minha ultima queca. Cheiros tão diferentes de alturas que marcam mudanças e timmings jamais esquecidos.
Senti portanto mesmo quem não estava presente.
E para esquecer arquitectura, sou abraçado pela mesma. Num gesto carinhoso e sensual, sinto me envolvido e tocado mesmo tendo noção que não é ali que se encontra o meu retiro.
Pouco depois, sinto a maresia da galé e o cheiro dos pinheiros numa manhã de verão em que os raios de sol já aquecem. Aquela noite em que estavas no churrasco com aquele charme que te é tão característico. Fugi rapidamente (afinal fui eu que travei).

O amor odeia o poeta. O amor não quer ser magnificado, toma-se por um absoluto, o único. E não confia em nós. Sabe, no mais profundo de si próprio, que não é magnífico (daí a sua tirania!), sabe que toda a magnificência é – alma, e onde a alma começa, o corpo acaba. Puro ciúme, Rainer, o mais puro. Como o da alma perante o corpo.

A mascara de quem coordena os ritmos era exactamente aquela que usava sem que ninguém percebesse. E dançava.
Mais um abraço de quem remete a intimas fracções expressivas no meu traço.
Alguns olhares desviados na quebra que me caracteriza e as pernas começam a fazerem sentir-se. Pesam –me quase tanto como a alma.
Que noite esta, que ritmos, que cheiros, que sensações. Um doce salgado.

Mas sinto me feliz, nem sei ao certo porquê. Mas como diria o chocolate “a vida não é uma resposta, mas sim uma pergunta”.

2 comments:

Anonymous said...

a vida dá-nos uma resposta, mas a que pergunta?...

Domus quieta said...

eu nunca disse que a vida nos dá repostas :P